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O Velho, Luiz Carlos Preste

Edson Porto e Vinicius Ferreira

Jornalismo e História

https://semtiragem.wordpress.com/a-coluna-prestes/

Prestes quando Capitão do Exército Brasileiro

Luís Carlos Prestes nasceu em Porto Alegre no dia 3 de janeiro de 1898, filho de Antônio Pereira Prestes, oficial do Exército da arma de engenharia, e de Leocádia Felizardo Prestes, professora primária. Além de Luís Carlos, o casal teve quatro filhas. A família Prestes mudou várias vezes de residência, transferindo-se de Porto Alegre para Alegrete (RS) e voltando depois à capital gaúcha, de onde viajou para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal.

Depois dos primeiros estudos com a mãe, Prestes matriculou-se em 1906 numa escola primária particular em Botafogo, no Rio. Em 1908 seu pai morreu no posto de capitão, deixando a família em dificuldades financeiras. Prestes devido à mudança da família para o bairro do Andaraí, transferiu-se para uma escola pública desse bairro. Logo em seguida tentou o ingresso, por concurso, na 2ª série do Colégio Militar, com o propósito de seguir a carreira das armas. Embora aprovado não foi matriculado por não ter recorrido ao apoio de “pistolão”. No ano seguinte, fez de novo o concurso e, aprovado, não foi admitido. Sua mãe recorreu, então, ao general Bento Ribeiro, amigo de seu pai e que viria a ser prefeito do Distrito Federal de 1910 a 1914, para obter uma vaga no colégio, no qual ingressou finalmente no mês de maio de 1909.

Por decisão de seu pai, que era positivista, Prestes e as irmãs deveriam fazer sua opção religiosa quando atingissem a maioridade. Foi no Colégio Militar que o professor de latim e médico Joaquim da Silva Gomes o convenceu a iniciar-se na religião católica. Prestes foi então encaminhado por seu professor ao padre Pio Santos, monsenhor da igreja Santa Cruz dos Militares, e chegou a freqüentar duas ou três vezes por semana o catecismo. Segundo seu depoimento, ao mesmo tempo em que era introduzido na doutrina católica, lia livros da biblioteca de seu pai, interessando-se pelos filósofos franceses como Diderot, Rousseau e outros. Seria batizado por vontade própria aos 18 anos, em março de 1916, na igreja de São José, no centro do Rio, tendo como padrinhos Nossa Senhora da Conceição e seu professor de latim.

Em fevereiro de 1916 sentou praça, ingressando na Escola Militar do Realengo, também no Rio, onde teria como companheiros Juarez Távora, Antônio de Siqueira Campos, Carlos da Costa Leite, Eduardo Gomes, Osvaldo Cordeiro de Farias, Newton Prado e Landerico de Albuquerque Lima, todos integrantes da geração que iniciou as revoltas tenentistas da década de 1920. Concluiu os dois primeiros anos do curso geral em 1917, cursando os dois anos seguintes como aluno da arma de engenharia. Declarado aspirante-a-oficial em dezembro de 1918, quando ainda cursava o 3º ano da Escola Militar, em 1919 terminou o curso de engenharia, mas não prestou os exames finais, suspensos devido à epidemia de gripe espanhola que grassava no Rio de Janeiro. Colou grau em janeiro de 1920, obtendo o diploma de bacharel em ciências físicas e matemáticas. Sua turma foi a última da Escola Militar a obter esse diploma, devido à reforma do ensino.

Ao concluir o curso, foi designado para servir na 1ª Companhia Ferroviária de Deodoro no Rio de Janeiro.

Pretes

Pretes

Promovido a segundo-tenente em dezembro de 1920, foi convidado para exercer a função de auxiliar de instrutor da Escola Militar do Realengo. Pouco tempo depois, já na metade de 1921, passou a instrutor. Em setembro desse ano, porém, pediu exoneração por não concordar com a tentativa de redução do material didático que considerava necessário para a prática da instrução. Voltou então a servir na 1ª Companhia Ferroviária de Deodoro, onde permaneceu até julho de 1922.

O ano de 1922 foi marcado por alguns acontecimentos, cujas conseqüências determinaram mudanças significativas na história política brasileira, desempenhando também papel fundamental na trajetória de vida de Prestes e de seus companheiros de turma da Escola Militar. Nos dias 25, 26 e 27 de março realizou-se o I Congresso do Partido Comunista Brasileiro, então chamado Partido Comunista do Brasil (PCB), fundado nessa ocasião. Foi também em 1922 que se realizou em São Paulo a Semana de Arte Moderna, evento que deu início a uma nova concepção estética nas artes e levou à ruptura com as tradições acadêmicas. Nesse ano realizaram-se ainda eleições para a sucessão do presidente da República, Epitácio Pessoa, o que provocou a abertura de uma crise política. A origem imediata da crise ligou-se à escolha do nome do candidato à vice-presidência, quando se formou uma coligação entre os estados que se sentiram marginalizados pelo governo central: Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Essa dissidência, denominada Reação Republicana, lançou como candidatos à presidência e vice-presidência, respectivamente, Nilo Peçanha, do Rio de Janeiro, e José Joaquim Seabra, da Bahia, em oposição às candidaturas oficiais de Artur Bernardes, de Minas Gerais, e Urbano dos Santos, de Pernambuco.

A Reação Republicana procurou obter o apoio do marechal Hermes da Fonseca, na ocasião presidente do Clube Militar. A campanha sucessória desencadeou uma acirrada disputa entre os dois grupos, culminando com o episódio das “cartas falsas”, documentos ofensivos ao Exército publicados no jornal Correio da Manhã em outubro de 1921, como de autoria de Artur Bernardes, com a finalidade de incompatibilizá-lo com as forças armadas. Sindicância posterior demonstrou tratar-se de textos forjados, mas sua publicação intensificou a oposição dos militares a Bernardes, afinal eleito em março de 1922.

Nesse episódio, Prestes, como sócio do Clube Militar, compareceu à assembléia que discutiu a questão das cartas de Bernardes e votou contra a constituição de uma comissão de inquérito para averiguar a autenticidade das mesmas, pois, segundo seu próprio depoimento, naquele momento ele acreditava que as cartas eram verdadeiras e que de nada adiantaria comprovar sua veracidade se os oficiais do Exército não tivessem condições de intervir e alterar a situação. Nesse encontro, a maioria – ou seja, aproximadamente oitocentos oficiais -, apoiou a abertura de inquérito e 40 votaram contra. O voto de Prestes não foi compreendido por seus colegas, que passaram a hostilizá-lo. O tenente Vítor César da Cunha Cruz, segundo o depoimento de Prestes, foi o único a procurá-lo para ouvir suas explicações.

Logo após a vitória eleitoral de Bernardes, Prestes decidiu pedir uma licença de saúde do Exército por seis meses. Para se manter e ajudar financeiramente a família, passou a dar aulas particulares de matemática e geometria, lecionando também no Ginásio 28 de Setembro.

Leocadia Prestes, mãe de Luiz Carlos Prestes

Leocadia Prestes

Em 13 de setembro de 1922 foi transferido, juntamente com Fernando Távora, para a Comissão Fiscalizadora da Construção de Quartéis em três cidades do sul do país: Santo Ângelo, Santiago do Boqueirão e São Nicolau. Foi promovido em outubro a capitão, antes mesmo de embarcar para o Rio Grande do Sul. Permaneceu pouco tempo na comissão, pedindo demissão em fevereiro de 1923 porque não lhe foi dado o material necessário para fiscalizar as obras. Promovido a capitão em outubro, mas só no final do ano obteve a exoneração do cargo que ocupava. Nesse período, foi louvado pelo comandante da 3ª Região Militar (3ª RM), general Eurico de Andrade Neves, por sua atuação na revolução de 1923, luta armada que se travou no Rio Grande do Sul entre republicanos e libertadores em torno da quinta reeleição do líder republicano Antônio Augusto Borges de Medeiros para a presidência do estado.

Luis Carlos Prestes preso, com o jornalista chileno José Joaquim Silva e o capitão Orlando Leite Ribeiro no pátio de recreio da Casa de Correção do Rio de Janeiro, 1941.

Luís Carlos Prestes preso, com o jornalista chileno José Joaquim Silva e o capitão Orlando Leite Ribeiro no pátio de recreio da Casa de Correção, Rio de Janeiro, 1941.

Ainda em Santo Ângelo, em contato com colegas de turma que planejavam derrubar o governo de Artur Bernardes, comprometeu-se com a revolução que iria ser deflagrada em julho de 1924. Como não desejava revoltar-se na condição de oficial do Exército, pois havia jurado fidelidade aos poderes constituídos, solicitou no início de julho de 1924 licença para tratamento de saúde. Encontrava-se nessa situação quando, sem que tivesse sido avisado, eclodiu o movimento armado de 5 de julho de 1924, segundo aniversário da revolução frustrada de 1922. A revolução irrompeu em Sergipe, no Amazonas e em São Paulo. Nos dois primeiros estados, foi dominada rapidamente, mas em São Paulo os rebeldes sob o comando do general Isidoro Dias Lopes e do major da Força Pública de São Paulo Miguel Costa ocuparam a capital por três semanas até que, pressionados pela ação conjunta das forças policiais de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, rumaram para oeste em fins de julho. Conseguiram chegar a Mato Grosso e daí, devido à pressão das forças legalistas, foram obrigados a atravessar o alto Paraná e ocupar Guaíra (PR), depois de sofrer várias perdas nos combates travados com as tropas governistas.

No mês de setembro, Prestes pediu demissão do serviço ativo no Exército. Nesse período em que esteve afastado da tropa, trabalhou- como engenheiro numa empresa con-cessio-nária de serviços públicos, instalando luz elétrica em algumas cidades gaúchas, entre as quais Santo Ângelo. Envolvido nos preparativos para a revolução no Rio Grande do Sul, assumiu a liderança do movimento em Santo Ângelo com a participação do tenente Mário Portela Fagundes. Siqueira Campos partiu em companhia de João Francisco Pereira de Sousa e Anacleto Firpo para conferenciar com Juarez Távora na cidade de Foz do Iguaçu (PR). Nas conversações foi decidido que as forças revoltosas deveriam avançar até Ponta Grossa (PR), onde encontrariam a Divisão São Paulo.

Olga Benário Prestes

Olga Benário Prestes

Os trezentos soldados da Companhia do 1º Ba-talhão Ferroviário que Prestes comandara na abertura da estrada de ferro o acompanharam no levante. O líder lançou um manifesto no qual assegurava ao povo “a ordem, o respeito à propriedade e à família”, vinculando sua revolta à de São Paulo, comandada por Isidoro. Declarou também que seus objetivos eram depor Bernardes e impedir que a Inglaterra se apropriasse das alfândegas brasileiras para a amortização da dívida externa em 1927. Além das tropas comandadas por Prestes, sublevaram-se no Rio Grande do Sul o batalhão de São Borja, liderado pelo tenente Siqueira Campos, o 3º Grupo de Artilharia a Cavalo (3º GAC), de Alegrete, sob a liderança dos tenentes João Alberto Lins de Barros e Renato da Cunha Melo, e o 3º Bata-lhão de Engenharia, de Cachoeira do Sul, tendo à frente o capitão Fernando Távora. Levan-ta-ram-se também o 3º RCI de São Luís Gon–zaga, sob o comando do tenente João Pedro- Gay, e o 5º RCI de Uruguaina, sob o comando do capitão Juarez Távora. Os revoltosos contaram também com o apoio das forças irregulares de velhos caudilhos – Honório Lemes, Zeca Neto, Leonel Rocha e Júlio Barrios.

Com o prosseguimento da luta, Prestes assumiu o comando da coluna constituída pelo 2º e 3º regimentos de Cavalaria, o 1º Batalhão Ferroviário e revolucionários civis. A coluna permaneceu na região missionária durante dois meses, enfrentando as tropas legalistas compostas, segundo Hélio Silva, por cerca de dez mil homens. Marchou em seguida para a colônia militar do rio Uruguai com cerca de dois mil homens mal armados e deficientemente municiados.

Por seu lado, as colunas de Honório Lemes e Zeca Neto, que se reuniram após uma série de combates, internaram-se no Uruguai, o mesmo fazendo Júlio Barrios em dezembro.

(fonte: Fundação Getúlio Vargas)

Veja mais:

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Em 1986 Prestes concedeu entrevista ao programa Roda Viva da antiga TV cultura, na qual ele discute o Partido Comunista Brasileiro, a Nova Constituinte e os caminhos que o Brasil percorreu no contexto das reformas políticas e sociais do século XX.

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Leia a  saga de Luiz Carlos Prestes no Sem Tiragem

Os caminhos de Luiz Carlos Prestes

Tenentismo: Fruto da ruptura dos alicerces da República Velha

A marcha da Coluna Prestes

Prestes e o sonho comunista

O regresso de Prestes ao Brasil

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